segunda-feira, 21 de julho de 2008

Solidão e auto-suficiência: dois lados da mesma moeda

O motivo deste post, é que vários amigos e conhecidos meus reclamam constantemente da solidão e da dificuldade em encontrar um parceiro "sério". Por que será que é tão difícil engatar um namoro sério no meio gls??

É bem verdade, que vários desses reclamões não sabem o que dizem, pois choram a falta de pessoas sérias, que queiram se relacionar de verdade, mas a conduta das mesmas não traduz esse desejo!! E não estou aqui pra julgar quem não goste de namoro, nada disso! Há também aqueles super exigentes, que querem encontrar de mão beijada o príncipe dos seus sonhos, com a mesma facilidade de um delivery: - alôu? quero 1,85 m de homem viril, cara de safado, sarado, bem dotado, versátil, liso/ depilado ou poucos pêlos ok?? demora ?? ahhhh, não esquece de botar um pouquinho de alma e caráter !!

Whatever, com esse relato veremos que o problema da solidão, auto-suficiência e isolamento de relações afetivas pode estar associado a traumas , que todos nós estamos sujeitos até encontrarmos a saída do armário ! espero que gostem! abraço .


A queixa do novo paciente não diferia muito da de tantos outros que me procuram com o desejo de fazer psicoterapia. Na faixa dos trinta e poucos anos, personalidade atraente, bem-resolvido em relação à sua orientação afetivo/sexual, encaminhado profissionalmente e com um razoável círculo social, esse paciente não consegue entender porque continua sozinho.

Como geralmente acontece na primeira entrevista nesses casos, ele passou boa parte do tempo discorrendo sobre as dificuldades “externas”, ou seja: como é difícil encontrar alguém verdadeiramente interessado em um relacionamento sério, como o meio gay é promíscuo, como os outros são complicados, etc. No meio disso, apenas um questionamento autocrítico: será que sou muito exigente?

Com o passar do tempo, à medida que as sessões foram transcorrendo e que pudemos ir nos aprofundando na sua psicologia, vários aspectos, entretanto, até então completamente desconhecidos para ele vieram à tona. Foi aos poucos se lembrando de fatos e situações da sua infância que pareciam não ter muita importância, mas que voltavam agora sob um novo ângulo. Junto com essas lembranças, vários sentimentos, alguns não muito agradáveis, foram revividos e, com eles, emoções carregadas de afeto puderam se manifestar mais livremente.

Percebendo-se desde muito cedo diferente dos outros meninos (irmãos incluídos) e sentindo-se como se não pertencesse àquela família, ele foi desenvolvendo um quadro de isolamento, permeado por inúmeras fantasias de fuga. Entre elas, a de que um dia seus pais verdadeiros viriam buscá-lo. Nesse processo de escape de uma realidade com a qual não sabia lidar adequadamente, refugiava-se em livros e filmes. Foi ficando cada vez mais solitário, mais fechado num mundo próprio no qual era o único habitante de carne e osso. Com o decorrer dos anos, a socialização escolar o obrigou a desenvolver recursos de interação com outras crianças, mas ainda assim sem nenhuma conexão afetiva muito significativa.
Os anos da adolescência, como não poderia deixar de ser, foram bem mais difíceis por envolver todas as complicações decorrentes de se descobrir homossexual e de ter que lidar com elas, mais uma vez, de forma solitária. Agora, a fuga não estava apenas nos livros e nos filmes, mas, sobretudo, nos estudos aos quais passou a se dedicar com enorme afinco. Brilhante, passou no vestibular, concluiu o curso com sucesso e ingressou numa ótima organização na qual vem fazendo carreira. Sua auto-estima se elevou, ganhou o respeito da família e, depois de muito sofrimento interno, assumiu-se para eles. Eles o aceitaram de forma condicional: tudo bem, desde que mantivesse a discrição e o assunto ficasse à distância.

Escolhi esse caso para comentar por seu caráter recorrente na clínica homossexual. Evidentemente o simplifiquei bastante para adequá-lo ao objetivo deste espaço. Esse paciente, assim como muitos outros que atendi ao longo dos anos, acabou caindo numa armadilha complicada. Como forma de compensar aspectos de sua psicologia que não puderam ser integrados à sua personalidade consciente (tais como sua sensibilidade e criatividade) desenvolveu-se psicologicamente de uma forma unilateral. Ou seja, investindo boa parte de seus recursos psíquicos na construção de uma personalidade fortemente atrelada ao campo profissional.
Com isso, para ser bem-sucedido e, portanto, aceito pela família e respeitado pelos amigos, teve que deixar de lado os aspectos mais afetivos e relacionados à capacidade de troca e de estabelecimento de intimidade emocional. Crescendo na solidão de uma vida que não parecia ser a sua, precisou criar mecanismos poderosos de defesa para atravessá-la de forma satisfatória. Compreendeu muito cedo que só seria amado se pudesse atender às expectativas familiares e sociais e que, em última instância, não poderia depender de ninguém. Tornar-se auto-suficiente, financeira e, principalmente, emocionalmente, reduziria sua vulnerabilidade e o colocaria numa posição de controle sobre sua própria vida.


O problema dessa “estratégia” psíquica é que, no outro lado da auto-suficiência defensiva, podem estar os verdadeiros motivos para a sua solidão amorosa. Incapaz de se arriscar e de se lançar na experiência nebulosa do amor sem estar sempre com os dois pés atrás, cada tentativa frustrada reforça sua crença básica inconsciente de que não pode mesmo contar ou depender de ninguém. E com o tempo, se nada mudar, é bem possível acabar mesmo acreditando que pode viver muito bem sozinho. Será?

Por Klecius Borges (G magazine)

5 comentários:

Râzi disse...

Já fiz um post sobre isso, e ele coaduna perfeitamente com o que vc falou!

Ou seja, pensamos igual!"

É fácil reclamar que não se tem um namorado e na primeira vez que aparece um cara sério, começar a reclamar que o cara não sai do seu pé...

Complicadíssimo!

Beijão!

Anônimo disse...

Putz! vc escreveu isso pensando em mim.
Eu sou exatamente esse cara. não o que vc descreveu, mas o que a reportagem descreve.
Adorei amigo!

Marcos Freitas disse...

É cara, é barra, quando o pessoal tá sozinho quer um namorado, quadno está namoanod quer liberdade, ou seja, enquanto povo não souber o q quer, ficaram sozinhos.

Aqui entre nos, namorar não é muito legal, dividir uma vida dois não é fácil, mas ninguém é uma ilha, temos que ceder, e aproveitar os momentos prezeiros, falo isso pq namoro há 5 anos e não abro mão, mesmo tendo esse lado "chato"

Alexandre Lucas disse...

Faço minhas as palavras de "Kátia Cega": "O amor é uma grande alegria que acaba em tristeza, é um jogo marcado, que a gente não pode vencer..."

Jean Luiz disse...

Solid�o � algo triste, mas precisamos saber onde estamos errando, reconhecer e mudar as atitudes. Todos merecem ser feliz junto de outra pessoa.
**** Trair se tornou uma regra nos casamentos homossexuais?
Saiba mais, www.blogjeanluiz.blogspot.com